Textos estudados no grupo

MARTINS, J. B. A importância do livro Psicologia Pedagógica para a teoria histórico-cultural de Vigotski. Análise Psicológica (2010), 2 (XXVIII): 343-357.


"Este texto se inscreve num projeto mais amplo que tem como perspectiva identificar as unidades de análise que Vigotski1 estabeleceu para estudar o comportamento humano. Como ponto de partida deste projeto, e inscrevendo nosso olhar sobre a obra de Vigotski numa perspectiva histórica, tomamos a obra Psicologia Pedagógica para análise, tendo como perspectiva identificar pistas, indicações do projeto que o autor estabeleceu para a Psicologia" (MARTINS, 2010, p. 343).

Acesse o texto aqui.

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Texto de livre difusão na internet: vejam o site http://www.vigotski.net/
Agradeço ao Achilles pela generosidade em disponibilizar suas produções para todos os amantes da obra de Vigotski!
Gisele
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Trecho abaixo: extraído de "Vigotski no Brasil: Traduções publicadas entre 1984 e 2009", redigido por Achilles Delari Junior (Umuarama, PR) - mimeo.

De 1925: “A consciência como problema da psicologia do comportamento”

Texto não apresentado em 1924 no Congresso de  “Leningrado”, como disseram alguns autores, mas escrito e publicado em 1925,  em coletânea organizada por K. Kornilov (1800-0000), suposto alvo de crítica heróica de Vigotskiana, em 1924. O tema da “consciência” corria o risco de ser rotulado “idealista”, no contexto da campanha oficial por construção de uma psicologia objetiva marxista. Contudo, já  na epígrafe, o autor recorre a Marx citando uma passagem do vol. 1, livro primeiro  - cap. V (“Processo de trabalho e processo de valorização”) de “O Capital” (cf. Marx, 1867/1983, p. 149).  Nela se alude ao “projeto mental” como imanente à própria definicção do trabalho humano como tal. Por um lado, é o trabalho social que engendra a consciência (determinada pela existência social). Por outro, sem uma dimensão simbólica e/ou de planejamento mental, não há trabalho. Nesse sentido, mesmo que a abelha e aranha tenham atividades voltadas a satisfazer necessidades, jamais “trabalham”. Vigotski se empenha por dizer que a consciência permanece como objeto da psicologia, já que nos diferencia de todos os outros seres. Contudo, ela não explica a si própria, nem deve permanecer inexplicável coma na “velha psicologia”. Cabe estudar objetivamente as condições de sua emergência. Até em função disso, recorre-se à linguagem reflexológica -  os processos conscientes não são o próprio reflexo, mas um “mecanismo transmissor entre sistemas de reflexos” (Vyotski, 1925/1991, p. 59). O que mantém noção já afirmada em 1924, sobre a consciência como “reflexo de reflexos” – em termos próprios da chamada “nova psicologia” (objetiva). Tal noção de processo de “segunda ordem” também se formula com termos presentes na velha psicologia (subjetiva), ao definir consciência como “vivência de vivências” (переживаниепереживаний [perejivanie perejivanii]) (Vygotski, 1925/1991, p. 50). Em luta constante por superar a linguagem da época, ao mesmo tempo que não pode deixar de ter uma dívida intelectual para com ela, pode-se notar em Vigotski ainda um subtexto relativo ao problema do ato volitivo, das  escolhas humanas, seus ganhos e perdas. Mas, neste momento, são abordadas do ponto de vista da objetividade do fato neurológico descrito por Sherrington de que temos muito mais neurônios para receber estímulos do que para emitir respostas. Sendo assim imprescindível um processo seletivo para que dados estímulos sejam respondidos e outros não. Num “efeito funil”, muitas respostas possíveis para um mesmo estímulo “lutam” por se realizarem, até que uma delas vença num “ponto de colisão” (idem, p. 47 e 49). Abstraídos tais termos reflexológicos, na “Psicologia concreta” de 1929, também se falará da luta (dramática) de hipotético juiz que deve julgar a própria esposa. Qual papel vencerá: o de magistrado imparcial ou o de esposo fiel?"
No Brasil: A consciência como problema da psicologia do comportamento (Vigotski, 1999b, p. 52-92)".